quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"No final das contas, as aspirações românticas da nossa juventude se reduzem a o que for que funcione" (Woody Allen, Whatever Works). Por Diego Fernandes

 

Gosto de filmes que tratem da vida. Não sou daqueles cinéfilos que se regozijam com filmes viajantes, fantasiosos, que imaginam mil e um devaneios. Ficção, no sentido que habitualmente damos a essa palavra, não me apraz muito quando se trata cinema. Ao invés disso, prefiro filmes que abordam experiências do dia a dia, que contam histórias que logo reconhecemos como “vivíveis”.  Filmes que figuram no meu rol de interessante são justamente aqueles que, uma vez assistido, digo; “isso realmente acontece na vida”. Julgo um bom filme quando a história representada se aproxima das experiências que nós, (meros) espectadores, vivemos. Nesse sentido, o filme “Whatever Works”, de Woody Allen, foi pra mim um prato cheio.
            Whatever Works (traduzido como “tudo pode dar certo”) reproduz mais uma vez os clichês do seu diretor, ou seja, Nova York do século XXI e personagens neuróticos e pessimistas. Conta a história de Boris Yellnikoff (Larry David), um velho rabugento que, após tentar se suicidar, passa sua vida “ensinando” xadrez a umas crianças e reclamando do mundo numa roda meio cult de amigos. Sua vida estava toda rotinizida, sem nada de novo e inusitado, até quando aparece uma jovem alegre e simpática que muda a vida de todos, a Melodie Celestine (Evan Rachel Wood). Mais do que contar ou resumir a história do filme, destaco aqui três pontos alto do filme.
            Logo de saída, o espectador mais atento se remexerá na poltrona ou sofá da sala. Isto porque já nas cenas iniciais Boris se dirige para nós, espectadores. Alá Machado de Assis, o diretor coloca seu personagem principal para conversar com a platéia. Toda estranheza de Boris não é suficiente para que não se identifique com a platéia. Há no filme uma comunicação entre o público e personagem. O que deixa o filme ainda mais atrativo. Além de, obviamente, estraçalhar a fronteira entre realidade e ficção.  Como toda obra cinematográfica de Woody Allen, Whatever Works é recheado de diálogos analíticos, que perscrutam o amor, a vida, o mundo, a amizade, o acaso, etc. De um desses diálogos, brota-se a brilhante frase, que poderia ser dita por qualquer intelectual ocidental pós 1968; "No final das contas, as aspirações românticas da nossa juventude se reduzem a o que for que funcione" (daí o Whatever Works do título). O filme traz essas discussões existenciais sem cair numa monotonia ou academicismo.
            Por fim, destaco nesse breve texto uma qualidade ímpar de Woody Allen; sua capacidade de saber fazer um final feliz. Sempre que assisto a um filme do diretor norte-americano fico espantado com o fato de que, mesmo os personagens se dando bem no final, as coisas não terminam lá muito alegres. O desfecho é feliz para os que figuram no filme, todos se ficam bem, mas, a despeito disso, permanece uma certa sensação de que as coisas podem não dar muito bem. A felicidade chega, mas não se sabe até quando ela vai durar. Wood Allen consegue, mesmo fazendo finais alegres, deixar no ar uma certa inquietação, um receio de que tudo pode acontecer. Das telas derradeiras, parece escorrer a dúvida, o imprevisível, o acaso. 

O Autor: 

      Grande Diego, colega de turma do curso de História da UFRN, e amigo de vida e de Hard Rock!Sempre que possível vai nos brindar com uma de entretenimento e duas de Vodka!

3 comentários:

  1. (Quem indicou o filme? Quem indicou? kkkkkkkkk Brincadeira.)
    Quando assisti o filme, confesso que não esperava um "happy end". E fiquei mesmo "chateada" pela forma como ele acabou. No entanto, me surpreendi pelo final feliz que não pareceu, na verdade, tão feliz assim. Gostei bastante do filme. Woody Allen sempre nos traz alguma mensagem útil no desfecho de suas produções. (O que é válido também para o seu outro filme "Você vai conhecer o homem dos seus sonhos") O grande barato do filme, na minha humilde opinião, é mesmo sobre o acaso e as nossas aspirações amorosas, que, no fim, se resume mesmo a isso: ao que pode "dar certo".
    Parabéns pelas impressões acerca do filme, Diego. Resultou em um bom texto. :)

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